Trabalhadores e estudantes<br>paralisaram o país
A Central Unitária dos Trabalhadores (CUT) e a Confederação dos Estudantes do Chile (Confech) consideraram um êxito a paralisação de 48 horas realizada, a semana passada, em todo o país.
«Manifestações e concentrações foram dinamizadas em todo o território»
Apesar da repressão, o governo liderado pelo empresário Sebastián Piñera não impediu que milhões de chilenos aderissem à greve geral e manifestassem o seu apoio às propostas sindicais e estudantis de alterações progressistas na legislação laboral e na Constituição, de reforma fiscal, de maior investimento público na Saúde, Educação e Habitação, e do seu reconhecimento como direitos inalienáveis no texto fundamental.
«As nossas exigências são políticas, sociais e económicas», disse o líder da CUT. Para Arturo Martínez, a crise que afecta o povo e o país coloca como necessidades objectivas as profundas mudanças estruturais exigidas. Medidas cosméticas, como as promovidas durante os mandatos da Concertação, e regressões civilizacionais como as que o actual executivo de direita pretende impor, não só não são uma solução como, pelo contrário, representam o agravamento das condições de vida da maioria dos chilenos.
Nesse sentido, a CUT e a Confech fizeram um balanço extremamente positivo da mobilização dos trabalhadores e da generalidade da população à jornada de luta convocada para os dias 24 e 25 de Agosto.
Pelo menos 80 por cento dos funcionários públicos aderiram à paralisação de 48 horas, e em cerca de 250 empresas privadas foram registados fortes constrangimentos à laboração, factos que desmentem a alegada normalidade reclamada pelo governo durante a paralisação.
Centenas de manifestações e concentrações foram dinamizadas em todo o território, com destaque para as iniciativas que, quinta-feira, 25, levaram às ruas de todo o país mais de 600 mil pessoas.
Tiques da ditadura
No final de uma dessas manifestações, um jovem de 14 anos acabou baleado pelas autoridades. Manuel Gutiérrez foi atingido no tórax pelos carabineiros durante uma acção de protesto no município de Macul, na área metropolitana de Santiago do Chile.
As forças militarizadas negam qualquer responsabilidade no sucedido, mas quer o irmão de Gutiérrez quer outras testemunhas ouvidas por meios de comunicação social locais garantem que o disparo partiu das autoridades.
A morte do jovem foi a consequência mais grave da repressão que se abateu sobre os trabalhadores e estudantes chilenos durante as 48 horas de greve geral. Dados oficiais divulgados pelo governo admitem que, no total, terão sido detidas 1394 pessoas e centenas de outras terão ficado feridas na sequência das cargas policiais com recurso a gás lacrimogéneo e canhões de água.
A Federação de Estudantes da Universidade do Chile foi a primeira organização a exigir o apuramento das circunstâncias da morte de Manuel Gutiérrez. Camila Vallejo, presidente daquela estrutura estudantil, reiterou o pedido de demissão do ministro do Interior, Rodrigo Hinzpeter, o qual, acusam, é igualmente responsável pela violenta repressão dos jovens a 4 de Agosto.
Governo sem palavra
Entretanto, e face à amplitude dos protestos no Chile, o presidente Piñera apelou ao diálogo e expressou, sexta-feira, 26, disposição para negociar com estudantes e professores. A vontade de diálogo foi sol de pouca dura, já que depois de os estudantes terem decidido, em reunião plenária, atender ao pedido, o executivo anunciou o adiamento unilateral da primeira ronda negocial, prevista para anteontem.
O dito pelo não dito pelo qual se rege o governo chileno só deve agravar a impopularidade de Sebastián Piñera, que em 17 meses de governação caiu para um mínimo de 26 por cento de aprovação.
Do lado dos estudantes, a Confech insistiu que, com ou sem negociações, os estudantes do secundário e superior vão manter a tensão das forças e a disposição para a luta, tal como fizeram nos últimos três meses.